segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Classe C invade aeroportos e faz movimento crescer 21,6% em 2010

Brasileiros fizeram 126,5 milhões de viagens entre janeiro e outubro, segundo Infraero
A classe média brasileira ganhou 29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009 e agora representa mais da metade da população do país, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas). Com mais dinheiro no bolso e vontade de consumir, essa massa de trabalhadores resolveu deixar o ônibus de lado e viajar de avião. Um levantamento do R7, com base nos dados da Infraero (estatal que administra os aeroportos), mostra que o movimento nos aeroportos aumentou 21,6% neste ano.

Entre janeiro e outubro deste ano (dado mais recente), 126,5 milhões de passageiros viajaram de avião no Brasil. No mesmo período de 2009, apesar da crise, 104 milhões de pessoas usaram o transporte aéreo. Para o professor de planejamento estratégico e marketing do Mackenzie Marcos Morita, essa expansão do movimento se deve ao maior poder aquisitivo da classe média.

- Por causa das promoções, muitos voos acabam saindo pelo mesmo preço da passagem de ônibus. Esse aumento do movimento se deve à classe C, ainda que os executivos sejam maioria [dos usuários do transporte aéreo no Brasil].

O controle dos preços e o aumento do salário médio real permitiram ao brasileiro viajar mais, o que deixou os aeroportos brasileiros lotados, explica o economista e professor do Ibmec/DF José Ricardo da Costa e Silva. Para ele, entretanto, a alteração no estilo de vida do brasileiro não ocorreu agora.

- Essa mudança vem desde a estabilização de preços, que se consolida com a criação do Real [em 1994]. Quando se estabiliza preço, você permite à pessoa mais humilde fazer uma previsão dos gastos. A minha empregada doméstica já comprou dois celulares, um notebook para o filho e agora comprou um carro, ganhando R$ 900 por mês e pagando R$ 600 de prestação.

A classe C não espera para juntar dinheiro e pagar à vista. Ao contrário, ela compra conforme a parcela cabe no próprio bolso, explica Morita.

- Ela [classe média] não pensa muito nos juros, que podem dobrar o valor da compra [à vista]. O que interessa é o pagamento mensal, já que existe o desejo de ter o bem imediatamente.

Venda direta

Algumas companhias áreas, como TAM e Azul, fecharam parcerias para vender passagens diretamente para a classe C em grandes redes do comércio – Casas Bahia e Magazine Luiza, respectivamente. No entanto, as taxas de juros praticadas nas compras feitas pessoalmente são maiores que as da internet, alerta o economista do Ibmec/DF.

- Sempre compra mais barato quem opta pela internet, porque consegue fazer uma varredura maior de ofertas e ainda consegue pagar com cartão de crédito sem juros. Quando você vai para um carnê de loja física, você paga juros maiores. Como as classes C e D ainda têm um pouco de dificuldade no acesso à internet, isso ainda funciona.

Por outro lado, Morita lembra que a classe C está descobrindo a internet agora e já se tornou uma das principais clientes do segmento de compras online.

Movimento em 2011

Mesmo com o aperto no crédito, promovido pelo governo com o aumento do dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositado no Banco Central (depósito compulsório), não deve faltar grana para viajar no ano que vem, diz Costa e Silva.

- O problema maior do crédito no próximo ano não é a redução por causa do aumento compulsório ou da Selic [a taxa básica de juros]. O problema mais sério é uma parte da população se descobrir de mãos atadas em relação aos débitos que assumiu durante este ano. Ou seja, descobrir que se endividou mais que podia.

Para o ano que vem, a expectativa é que o movimento nos aeroportos brasileiros permaneça em alta. Isso porque, segundo o economista do Ibmec/DF, o número de pessoas que vai perceber que está devendo mais que podia ainda será menor que o de pessoas que vai entrar no mercado de crédito, o que gera uma compensação.

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