sábado, 24 de setembro de 2011

Jatinhos vão lotar aeroportos

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Aviões pequenos dividem espaço com os de médio e grande portes. Passageiros se arriscam ao embarcar no jatinho enquanto caminhão faz abastecimento no Augusto Severo, em Natal
FOTO: ALEX COSTA

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Muito se comenta acerca da necessidade de se procurar alternativas para melhor adequação dos terminais ao movimento de aeronaves comerciais de médio e grande porte. Porém, pouco se discute como esses mesmos aeroportos estarão preparados para atender ao fluxo dos voos executivos que, no Brasil, consegue superar a já expressiva alavancagem na movimentação de embarques e desembarques domésticos regulares.

Esse é o principal alerta da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), que representa o setor de aviões e helicópteros particulares ou operados por empresas de táxi aéreo, que atuam dentro do País prestando serviços de transporte não regular. Conforme a entidade, a estimativa de avanço do segmento merece mais atenção por parte das autoridades. "A gente tem crescido quatro ou cinco vezes mais do que a elevação do PIB, que neste ano, tem projeção de 4,5%, enquanto a aviação executiva deverá avançar entre 18% e 22%", coloca o presidente da Abag, Francisco Lyra.

O dobro de aviões

Segundo ele, a previsão é de que, durante a Copa do Mundo, a movimentação desse tipo de aeronave praticamente duplique. "Atualmente, são 1.214 unidades em atividade no Brasil. A expectativa é de que esse número seja ampliado em 1.000 jatinhos. Todos trarão pessoas do exterior", prevê.

Na opinião dele, não há, hoje, no País, um aeroporto sequer preparado para receber tal aceleração na demanda. Ele conta que, no caso dos terminais nordestinos que irão receber uma movimentação extra por conta das partidas do mundial, o problema pode ser acentuado.

Abastecimento

"Muitos voos da Europa têm de passar por Fortaleza, Natal, Recife, Salvador para reabastecer e realizar os procedimentos de migração. Manaus, na região Norte, passa pelo mesmo, com voos vindos dos Estados Unidos. Então, até em dias que houver jogos apenas no eixo Sul e Sudeste, a movimentação nessas capitais de aviões de pequeno porte será intensa", analisa.

Francisco Lyra ressalta que outro agravante é o espaço destinado para que esse tipo de aeronave fique estacionada. "Em média, um avião comercial passa até uma hora parado no pátio, enquanto que os jatinhos permanecem entre quatro e cinco dias. É preciso reservar um espaço para eles e, atualmente, não existe isso. Onde vamos por mais de mil aeronaves no Brasil, em 2014?", questiona.

Falta discussão

"Ainda não se parou pra pensar em todo o aparato de logística, segurança e conforto que você vai ter que construir para recepcionar esse público. É uma preocupação que deveria estar presente dentro do que está sendo programado para um evento desta grandeza", critica Lyra.

O presidente da Abag indica que a melhor solução é a criação de pequenos terminais exclusivos para esse tipo de aeronave localizados ao lado dos aeroportos internacionais. "A gente precisa aprender mais sobre as soluções utilizadas em outros países. Imitar as coisas boas que já deram certo. Costumo defender que além do terminal de passageiros haja um GAT (General Aviation Terminal) anexo para atender esse segmento", reforça. Segundo ele, os "terminaizinhos" são essenciais.

Em Fortaleza, até já existe algo parecido. Após o surgimento do novo aeroporto Pinto Martins, em 1998, o antigo terminal passou a ser destinado para esse tipo de operação. Contudo, na visão do especialista, só essa mudança não é o suficiente. "Precisa ser customizado, ter sala de espera, instalações de alfândega adequadas para receber os voos internacionais, que não serão poucos. Em Recife, Natal e Salvador, o problema é idêntico. Em geral, infelizmente, esses aparelhos que são considerados de entrada no Brasil precisam de mais investimentos", comenta Lyra.

PASSAGEIRO DIFERENCIADO
Perfil é exigente e formador de opinião

Há uma máxima no comércio em geral de que um cliente bem tratado divulga a sua felicidade com duas ou três pessoas, enquanto isso, em contrapartida, um consumidor insatisfeito espalha seu infortúnio para pelo menos dez outros potenciais consumidores. Verdade ou mito, o fato é que em qualquer lugar do mundo o ponto de vista de determinadas pessoas, os "famosos formadores de opinião", pesa muito mais do que a de "passageiros comuns". E é esse o perfil de visitante que virá com seus convidados "não menos especiais" em seus jatinhos para a Copa do Mundo, em 2014, e irá encontrar, segundo a Abag, um cenário desolador se nada for feito a partir de agora.

Para o presidente da Abag, a estrutura aeroportuária nacional não oferece comodidade nem segurança para receber esse público. "São mais do que só VIPs. Essas pessoas são consideradas VVIPs (Very Very Important People)", enfatiza Francisco Lyra sobre o nível de exigência desse tipo de cliente, que entrará no Brasil por meio dos nossos acanhados terminais.

"A perspectiva é que desembarquem por aqui, em seus voos particulares, os patrocinadores do evento (CEOs, presidentes, diretores e acionistas das principais multinacionais do planeta) e seus parceiros comerciais, a imprensa mundial, autoridades diplomáticas e chefes de Estado", identifica Lyra.

Ganho de tempo

Segundo dele, dois fatores preponderam acerca dos motivos da escolha desses visitantes pela aviação executiva. "Para eles o tempo é essencial. O desembolso é alto, mas sai bem mais caro pra eles perder tempo. Outra razão é a capilaridade desse tipo de transporte. Para se ter uma ideia, no Brasil, a conectividade dessas aeronaves chega a 3.500 localidades. Na aviação regular, a capacidade é bem pequena, são apenas 130 cidades", explica.

ILO SANTIAGO JÚNIOR



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